Morre Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai
Ex-guerrilheiro preso pela ditadura virou fenômeno internacional e referência da esquerda latino-americana como presidente do segundo menor país da América do Sul

O ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, morreu nesta terça-feira (13), aos 89 anos.
Em abril, ele revelou em coletiva de imprensa ter sido diagnosticado com tumor no esôfago quando foi fazer um check-up. Ele já lidava com uma doença auto-imune, que afetou seus rins.
Fundador do principal grupo guerrilheiro do Uruguai, que ficou preso mais de uma década e foi torturado pela ditadura, e acabou chegando ao poder décadas depois, Mujica se tornou o um dos presidentes mais queridos internacionalmente e colocou o Uruguai, o segundo menor país da América do Sul, na lupa mundial.
Seu estilo pouco afeito a luxos, com jeito simples de se vestir – para críticos, desleixado – que manteve inclusive durante a presidência, a defesa de uma existência menos consumista e as iniciativas progressistas que apoiou durante seu mandato, como a legalização do aborto, da maconha e do casamento entre pessoas do mesmo sexo, lhe renderam fama e admiração ao redor do mundo, e o posicionaram como uma das principais referências da esquerda latino-americana.
Mujica nasceu em 1935, em Montevidéu, onde morou ao longo de toda a vida. Começou na política no Partido Nacional, um dos mais tradicionais do Uruguai, onde foi secretário-geral da Juventude.
Nos anos 1960, foi um dos fundadores do Movimento de Liberação Nacional – Tupamaros, a guerrilha mais famosa do país. O grupo atuava com o roubo de locais para se autofinanciar, sequestros – inclusive do então cônsul brasileiro em Montevidéu, Aloysio Dias Gomide – e antentados contra autoridades e colaboradores da ditadura uruguaia (1973-1985).
Mujica foi preso quatro vezes. Fugiu da cadeia em duas. Sua primeira prisão foi em 1964, pelo roubo ao depósito de uma fábrica em Montevidéu para financiar a guerrilha. Em 1971, após ser detido novamente, conseguiu escapar por um túnel, com outros guerrilheiros e alguns presos comuns, da penitenciária de Punta Carretas, em uma fuga massiva, de 111 detentos, que entrou para a história do Uruguai.
Com a redemocratização, ele fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), sigla que passou a integrar a Frente Ampla, única coalizão de esquerda do país. Em 1994, Mujica foi eleito deputado por Montevidéu, e em 1999, senador. Em 2004, reeleito, ele se tornou o senador mais votado da história do país.
Em 2005, acabou nomeado ministro de Agricultura por Tabaré Vázquez, aliado na coalizão Frente Ampla, que se tornou o primeiro presidente de esquerda do Uruguai.
Nas eleições seguintes, aos 75 anos, Mujica venceu o ex-presidente Luis Alberto Lacalle Herrera, com 52,59% dos votos no segundo turno. À diferença de seu antecessor, que vetou a lei de descriminalizacao do aborto que tinha sido aprovada por ambas câmaras do legislativo em 2008, Mujica defendeu, durante a campanha, a laicidade do Estado e disse que não se oporia à lei se a interrupção voluntária da gestação fosse votada novamente.