Bolsonaro tem 'responsabilidade' de confrontar Putin sobre Ucrânia diz Estados Unidos
Visita de Bolsonaro à Rússia acontecerá em fevereiro, em meio à escalada de tensão na Europa

O governo dos Estados Unidos afirmou nesta sexta-feira que "o Brasil tem a responsabilidade de defender os princípios democráticos e proteger a ordem baseada em regras, e reforçar esta mensagem para a Rússia em todas as oportunidades''.
A declaração foi dada diante de questionamento sobre a visita do presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) ao mandatário russo Vladimir Putin, marcada para fevereiro.
A viagem foi confirmada ontem por Bolsonaro, em meio a uma escalada de tensões militares na fronteira entre Rússia e Ucrânia.
"Ele [Putin] é conservador sim. Eu vou estar mês que vem lá, atrás de melhores entendimentos, relações comerciais. O mundo todo é simpático com a gente", disse Bolsonaro a apoiadores na última quinta-feira, 27, em frente ao Palácio da Alvorada.
Há meses os russos estacionam tropas em pontos estratégicos próximos ao território ucraniano e exigem a proibição do ingresso da Ucrânia na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Do outro lado, os EUA e os membros da aliança militar prometem socorrer a Ucrânia, a quem têm abastecido com armas, e o presidente americano Joe Biden mantém 8,5 mil soldados americanos de prontidão para enviar a bases nos países bálticos se Moscou seguir em frente com alguma iniciativa bélica na região. O Brasil é hoje um aliado americano militar extra-Otan - título concedido ao país ainda na gestão de Donald Trump - e, no ano passado, recebeu endosso dos Estados Unidos para se tornar um parceiro global da aliança militar, o que expandiria ainda mais acessos brasileiros a armamentos e treinamentos militares conjuntos.
Além disso, o país acaba de assumir um assento temporário no Conselho de Segurança da ONU. Há pouco mais de duas semanas, o secretário de Estado americano Antony Blinken falou com o chanceler brasileiro Carlos França por telefone sobre o que o Departamento de Estado dos EUA afirmou serem "prioridades compartilhadas, incluindo a necessidade de uma resposta forte e unida contra novas agressões russas à Ucrânia". Já o Itamaraty confirmou em nota que a Ucrânia fez parte da conversa entre os ministros, no entanto, com ênfase muito menor ao assunto do que a dada pelos americanos. Apesar de o assunto fazer parte do diálogo, os americanos não foram comunicados por canais diplomáticos pelos brasileiros a respeito da viagem. "Estamos cientes da viagem (de Bolsonaro à Rússia) por causa de informações públicas", afirmou à BBC News Brasil um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. O governo americano ainda disse que "os EUA e um número significativo de países estão preocupados com o papel desestabilizador que a Rússia está desempenhando na região". Questionado sobre qual seria o teor da agenda tratada pelo presidente brasileiro com Putin e se, como aliado extra-Otan, se posicionará sobre o conflito entre Rússia e países da aliança, o Itamaraty apenas recomendou que a BBC News Brasil consultasse o Palácio do Planalto. Já o Planalto respondeu à reportagem que não tem detalhes da viagem até o momento e não comentou as declarações do Departamento de Estado. Reservadamente, um diplomata brasileiro afirmou à BBC News Brasil que o país trata de modo "soberano" de seus interesses, "sem ter que pedir autorização a nenhum outro país" e, historicamente, "conversa com todo mundo, sem que isso signifique concordar com tudo o que o interlocutor faz".