Análise: erros individuais chamam atenção, mas Flamengo precisa resolver problema mais amplo na defesa
Falhas de Gustavo Henrique e pênaltis perdidos contribuem muito para a derrota para o São Paulo, mas fragilidade na transição defensiva é algo recorrente que precisa ser ajustado
Em toda sua complexidade, um jogo de futebol pode ser explicado de muitas maneiras. Quando se vê os melhores momentos da derrota do Flamengo para o São Paulo no Maracanã, uma rápida conclusão é alcançada: falhas individuais culminaram na goleada sofrida. Esta, porém, é apenas a parte mais visível.
Obviamente, é impossível fazer qualquer análise sem levar em consideração as falhas. Bruno Henrique e Pedro perderam pênaltis em momentos cruciais: o primeiro colocaria o Flamengo em vantagem num momento em que jogava bem e até dominava o jogo; o segundo devolveria a esperança logo após o São Paulo ampliar a vantagem em 3 a 1.
Se no ataque o Flamengo "perdoou" duas vezes, do outro lado do campo o São Paulo foi muito mais eficiente. Em dois erros cruciais de Gustavo Henrique, dois gols: primeiro, um corte errado que faz a bola cair nos pés de Brenner; depois, um pênalti atabalhoado facilmente convertido por Reinaldo.
Qualquer time acometido por estes quatro erros teria muitas dificuldades para vencer uma partida.
Um problema antigo
Mas o que dizer, por exemplo do primeiro gol do São Paulo? Em meio às falhas individuais, outros momentos da partida, tão importantes quanto, não são revistos com o mesmo escrutínio.
O gol de Tchê Tchê, expôs o maior ponto fraco do Flamengo de Domènec Torrent desde muitos jogos: o desequilíbrio na transição defensiva. Reveja o lance e note o espaço entre a linha de defesa e o meio-campo. A facilidade com que o são-paulino pega o rebote e tem todo o tempo do mundo para colocar a bola no ângulo.
A transição defensiva do Flamengo vem sendo um problema difícil de resolver. Tem muito a ver com treino - ou a falta dele - e a forma como o clube se propõe a jogar. Principalmente depois da Era Jesus, espera-se que o Flamengo seja ofensivo e, principalmente, pressione, que faça uma marcação alta, sufocante, como nos melhores momentos de 2019.
Dome se adaptou ao Flamengo e conseguiu fazer o time executar muitas de suas ideias. Mas esta pressão ainda não está ajustada. Não só em seu momento mais visível, com os jogadores de frente, mas especialmente na forma como o meio-campo e a defesa se posicionam em campo. Falta maior automatismo de movimentos, maior compactação.
Defender alto é complexo e exige tempo de trabalho, e talvez seja o maior preço que Dome paga pela maratona insana que lhe toma sessões de treino.
Média de 1,3 gol sofrido por jogo no Brasileiro
O resultado é uma exposição contínua - lembre das muitas boas defesas de Hugo Souza em partidas recentes. Entre os cinco primeiros colocados do Campeonato Brasileiro, o Flamengo tem a pior defesa: são 25 gols sofridos em 19 jogos - média de 1,3 gol por jogo. Em apenas três jogos neste turno, a equipe não foi vazada.
O curioso é que o foco do grande público não está nisso. O "jogo posicional" de Dome vira debate em todas as rodadas, mas a parte ofensiva está muito mais desenvolvida nesta altura do trabalho. Atacar do jeito que o técnico quer não é mais problema para o Flamengo. A própria produção ofensiva contra o São Paulo esteve longe de ser algo debatido.
Resta, agora, corrigir a defesa. Não só a última linha, que acaba exposta e mais sujeita a falhas, mas também meio-campo e ataque. É o obstáculo que o Flamengo precisa superar para dar um salto de qualidade e ganhar força na briga pelos títulos.(Globoesporte)